Humberto Coelho
Idade: 20-04-1950
Nacionalidade: Portugal
Internacionalizações: 64
Posição:
Defesa Central
Épocas:
14
Jogos:
193
Golos Marcados: 18
Titúlos:
8CN; 6TP; 1ST
Carreira desportiva
1983/84 Benfica
1982/83 Benfica
1981/82 Benfica
1980/81 Benfica
1979/80 Benfica
1978/79 Benfica
1977/78 Benfica
1976/77 Paris SG
1975/76 Paris SG
1974/75 Benfica
1973/74 Benfica
1972/73 Benfica
1971/72 Benfica
1970/71 Benfica
1969/70 Benfica
1968/69 Benfica
O que faltava saber:
Quem joga ao lado de Humberto Coelho? Esta bem poderá ter sido uma das questões mais vezes colocadas pelos adeptos do Benfica nas tertúlias da bola. Titular absoluto deste os 18 anos de idade, no eixo da defensiva, ao longo de tantas épocas, contracenou, sucessivamente, com Raul, Zeca, Humberto Fernandes, Coluna, Messias, Rui Rodrigues, Barros, António Bastos Lopes, Eurico, Laranjeira, Alhinho, Alberto Bastos Lopes e Frederico. E outros mais na Selecção Nacional. Humberto constituiu-se uma espécie de imperador. Com direitos adquiridos, pois de forma tão preexcelente cumpria os seus deveres. Humberto era a chave da fortaleza quase sempre inexpugnável. Tipo guarda-mor do templo vermelho. O chefe da tribo. O que gritava revolta ou à serenidade apelava.Nasceu em Cedofeita, no Porto, provavelmente com genes de líder. O pai era operário metalúrgico, daquela classe que tem como divisa “nada nem ninguém nos vergará”. Um lema que terá inculcado, desde a tenra idade, no filho Humberto, apesar da apetência deste por outras artes.Só que o jovem tripeiro viveu uma infância pouco pacifica com a causa da bola. Era numa espécie de clandestinidade que exercitava o seu dom favorito. Os pais, o irmão mais velho até, amiúde o repreendiam, que futebol não era futuro, antes os livros, não fosse Humberto passar privações que a família bem conhecia. Da Escola de São João passou à Industrial, com aproveitamento satisfatório, mas sempre de ideia fixa no jogo da bola. Rapagão, José Águas era a sua referência primacial. Sonhava imitá-lo e aos golos de cabeça, numa altura em que o seu porte atlético não era nada desdenhável. Pela Mocidade Portuguesa, ainda praticou, na escola, basquetebol e voleibol, mas o apetite era outro. Tão voraz que, vencendo barreiras, daquelas quase intransponíveis, acabou por se fixar no Arsenal do Bessa, derivando de avançado para defesa-central.Exibiu Humberto credenciais e, com apenas 13 anos, já o Leixões suspirava por aquele miúdo alto, mais alto que os demais, irrepreensível no jogo aéreo. Debalde, pois a voz firme da mãe com sério olhar à mistura, puseram-no em sentido, na prossecução do campeonato dos livros.Algum tempo depois, já com endereço numa artéria da freguesia de Ramalde, finalmente o pai deu anuência e lá entrou a ficha de inscrição como juvenil do Ramaldense. Descoberto pelo FC Porto, nas Antas treinou, deixou a melhor das impressões, mas os dirigentes portistas acharam uma exorbitância a verba pedida pela transferência.Agradeceu o Benfica, naquele ano mágico de 1966. Por apenas 40 contos, mais 25 para Humberto, com o compromisso de honra, selado à maneira, de melhorar a oferta no caso dele se impor no grémio da Luz. Mais parecia premonição. Coube a Ângelo Martins, treinador dos juniores, durante duas temporadas, a polidura executar. Com tanto sucesso que Humberto Coelho, pupilo modelo, pegou de estaca, embrionário estava o grande jogador, para um Benfica órfão de Félix ou Germano, que o mesmo é escrever de um central fora-de-série.Na pré-época de 68, Otto Glória não hesitou e o facto mais relevante da digressão ao Brasil foi a entrada do capitão dos juniores na convocatória. Lá chegaram mais 30 contos a Ramalde, que no Benfica as escrituras eram para cumprir, cabendo cinco notas de mil mensalmente ao assalariado e ex-sonhador de utopias. Humberto Manuel de Jesus Coelho, de seu nome completo.No primeiro jogo em Belém de Pará não actuou, mas no segundo marcou presença. E que presença! Frente ao Santos, com Pelé e tudo. Incumbido de marcar o génio foi. Aos 18 anos, logo haveria de caber a mais invejada das empreitadas. Saiu-se a contento, ainda que a vencer por 3-1, o Benfica viesse a consentir a igualdade. O medo estava exorcizado. Irreversivelmente…Não mais perdeu Humberto a titularidade. Na abertura da temporada 68/69, era vê-lo a ganhar no palmómetro da Luz, num triunfo incontestável, de 4-1, frente ao Belenenses. Seguiram-se mais jogos, muitos jogos, adiada estava apenas a veia goleadora do defesa mais concretizador de toda a história do futebol luso. Foi com Hagan ao leme, no começo dos anos 70, que Humberto começou a comunicar no idioma do golo. O britânico era mesmo fleumático, não desmerecia a origem, avesso se mostrava ás substituições, por mais que a exigente plateia da Luz, de quando em vez, lhe propinasse umas ruidosas assobiadelas. E quando corria para o torto, a ordem era Humberto jogar na área, pelo lado direito das coisas, pelo golo, algumas vezes decisivo.Haverá algum benfiquista dos 40 para cima, que não recorde o dramático jogo da Luz, em Novembro, dia de Verão de São Martinho, frente ao FC Porto, corria a época de 72/73, quando para espanto geral, a 15 minutos do fim da contenda, 0-2 era o resultado? Num quarto de hora apenas, explodiu o vulcão. Primeiro Vítor Baptista. Depois, Jaime Graça. No último minuto, Humberto, em postura de ponta-de-lança, haveria de sentenciar, obtendo o 3-2, num assomo inusitado de garra. De resto, em 16 temporadas, duas das quais ao serviço do Paris S. Germain, marcou 68 golos, o que lhe confere o 25º lugar entre os defesas mais concretizadores da história do futebol mundial.Ganhador compulsivo, Humberto foi cimentando prestigio por todo lado onde o futebol falava mais alto. Sem surpresa foi convocado para a Selecção da Europa, em 19 de Agosto de 1981, na comemoração do 80º aniversário da Federação Checoslovaca de Futebol. Orientado pelo germânico Jupp Derwall, actuou ao lado de executantes do jaez de Blokhin, Krankl, Kaltz ou Pezzey. Um ano mais tarde, a consagração foi gigantesca. No Giants Stadium de Nova Iorque, perante 120 mil espectadores, Humberto actuou no meio de uma constelação de estrelas, em gala a favor das crianças da UNICEF. Para que conste, a Europa alinhou assim: Zoff (Itália); Krol (Holanda); Humberto Coelho (Portugal), Pezzey (Áustria) e Stojkovic (Jugoslávia); Beckenbauer (Alemanha), Antognoni (Itália) e Tardelli (Itália); Boniek (Polónia), Rossi (Itália) e Blokhin (União Soviética). Estávamos nos rescaldo do Mundial de Espanha e o antagonista foi o resto do Mundo, com N’Komo, Romeno, Júnior, Zico, Sócrates e Hugo Sanchez, entre outros. À chamada não faltaram também Schumacher (Alemanha), Keegan (Inglaterra), Neeskens (Holanda) e Platini (França). A Europa venceu por 3-2. Obrigado foi Humberto, taça nas mãos, a dar uma volta de honra ao estádio, colocando em clímax largas centenas, talvez milhares, de emigrantes portugueses.A ele faltou, todavia, um titulo europeu. Esteve perto, bem perto, naquela final da Taça UEFA, com o Anderlecht, no final do ano de 83. Com menos resignação ainda se aceita o facto de jamais ter participado na fase final de um Europeu ou Mundial. Ele que fez parte de uma geração de futebolistas, como Eusébio, Simões, Jaime Graça, Nené, Vítor Baptista, Artur Jorge, Jordão, Vítor Martins, Toni, Alves, Rui Rodrigues, Artur, Carlos Manuel, Shéu, Bento, Pietra, Veloso, Álvaro, Diamantino ou Chalana, para nos socorrermos apenas, porventura com algum sectarismo, dos arquivos benfiquista.
-A ânsia de Humberto, já trintão, selar a ouro uma carreira magnifica, talvez tenha precipitado o adeus definitivo. Havia-se lesionado num treino da Selecção, antes de uma partida com a Finlândia, em Setembro de 83. Desesperado, tentou a recuperação, sempre com o Europeu de França na linha do horizonte, forçou em demasia, porque o tempo lhe parecia fugir. E fugiu mesmo.À ribalta regressou, anos mais tarde, como seleccionador nacional. Então sim, pisou o palco que a vida de jogador, de forma impiedosa, lhe havia negado. A melhor das compensações não se fez esperar. Porque Deus é bom, dirão os crentes. Garbosamente, comemorou o terceiro lugar no Euro 2000. Justiça se fez.
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